Outro dia, estava eu indo para academia, sentada no transporte urbano (buso, mesmo!). Lendo meu livro tranquilamente, como de costume, em meio ao tráfego rotineiro que faço. Mesmo com o barulho do transporte e a zorra no trânsito, dá para ler (que meu oftalmologista nem sonhe que faço tal coisa!). Pois bem, eu muito entretida em minha leitura, mesmo assim não me desligo do que acontece a minha volta (ah, como é bom ser mulher nessas horas!), entra passageiro, desce, entram novos passageiros e eu estou a par de toda movimentação.
Nessas idas e vindas de pessoas, senta ao meu lado um senhor, aparentando seus 50 anos de idade, estava ele degustando um “espetinho”(churrasco). Por mim, tirando o cheiro do espeto, que por ser de carne, já me causa náusea, tudo normal, só mais uma passageiro no ônibus!
Tudo normal até o momento em que escuto as palavras “licença, por favor?!” e um braço passando por cima do meu livro em direção a janela da condução... Olhei para o senhor como quem está olhando para um “culpado”. Pensei: “Não, ele não vai fazer isso... Claro que ele vai fazer!” O dia já tinha sido puxado, e eu não estava em um dos meus melhores momentos, mas mantive o controle e disse: “Não moço, me dê! Eu tenho um destino para este palito!” _Claro que eu tinha um destino para o palito, a lata de lixo adequada! (O livro que eu lia, era de um teólogo, o tema é sobre as aspirações da fé. Por sorte de todos, creio que por ler tal livro, eu estava muito “zen” e não comecei com meu sermão ambientalista para cima do homem.) Retribuindo o meu olhar de “culpado” ele me lança um olhar de “essa menina é doida”. Meio relutante ele me entrega o espeto, desconfiado do jeito que ele estava, esclareci que “servia para um trabalho que eu estava fazendo” _Ele não esboçou reação.
Mas eu estava indignada, injuriada! Como alguém me pede “licença” para cometer um ato de tamanha falta de educação? Poxa, sei que a cidade em que vivo não é nenhuma Masdar, mas não se deve piorar a situação contribuindo com a porcariada toda. Fiquei louca para dar “uns relas” naquele homem, mas meu autocontrole falou mais alto. Não só por ele ter tentado jogar “lixo” pela janela do ônibus, mas por ele, certamente, achar que estava sendo educado ao pedir licença para realizar tal feito.
Está na hora de rever esse conceito. Será que sempre que usamos essa frase cortêz “com licença”, estamos realmente sendo educados? Usar de cordialidade para praticar uma atitude de extrema ignorância não demonstra boa educação. Pedir licença para fazer algo nem sempre quer dizer que estamos sendo educados. Já pensou se eu permito que o ato se executa-se... Provavelmente ainda teria ouvido um “obrigado!” _Um gentleman, não?! Quem não iria agradecer nada era o meio ambiente e a cidade!